MULHER VIRTUOSA

No Capítulo 31 do livro de Provérbios, encontramos a mãe do rei Lemuel ensinando-o: “Mulher virtuosa, quem a achará?”, como a preveni-lo, alertando-o de que, apesar de rara, a mulher virtuosa existia.
         Esta primeira metade do versículo 10 do Capítulo 31 de Provérbios nos remete para a consideração particularizada dos dois aspectos significativos que dividem em duas frases a oração. O primeiro é o aspecto afirmativo do qualificativo de determinadas mulheres: “Mulher virtuosa...”. Mas, quem é a mulher virtuosa? Seria tão só e simplesmente a mulher de valor, no sentido de todas as formas de excelência, quer seja no aspecto prático, quer seja no filosófico ou espiritual? Perguntaríamos, então: a primeira mulher, Eva, foi um exemplo de virtuosidade? Podemos afirmar que sim. Sua existência, antes da queda, a incluía no conjunto da obra do Criador como tudo de perfeito que Ele criara. E também dela disse o próprio Deus: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom”. (Gn. 1:31).
         Ao ser concebida, a partir de um desejo de Deus, no desfecho da criação do mundo, a fim de que pudesse ter o homem uma auxiliadora idônea (Gn. 2:18), feita também conforme a imagem e semelhança do Criador, a mulher, Eva, era, com certeza, perfeitamente virtuosa. Se, entretanto, ao desobedecer, Eva perdeu parte dessa virtude, parte da sua semelhança com Deus, foi-lhe, em contrapartida, oferecida, através da promessa do próprio Deus, a oportunidade de readquiri-la, por meio da sua própria descendência.
         Tal se deu com a moabita Rute, de origem incomparavelmente diferente da de Eva.  A descendência de Rute poderia ser considerada a partir de sua antepassada, a filha de Ló, na relação incestuosa com o próprio pai, dando origem à nação moabita que, apesar do parentesco com Israel, era idólatra, pecaminosa e perseguidora do povo de Deus. Essa origem, reprovável do ponto de vista da lei e dos costumes judaicos e tão humilde, se comparada à de Eva, contudo, não se constituiu obstáculo a que Rute, a exemplo de Noemi, sua sogra, alcançasse a plena virtude.
         Deixando sua nação, sua pátria, sua fé, seus deuses, Rute seguiu Noemi, adotando-a como sua família, como também para si, adotou sua pátria, seu povo, sua fé, seu Deus. E, da mesma forma que da descendência de Eva, também foi da descendência de Rute que nasceu o Salvador.
Pode haver maior virtude que esta?
O Segundo aspecto a ser considerado é o indagativo: “... quem a achará?”, como se a evidenciar a dificuldade de se encontrar o raro exemplar ali qualificado, no mesmo contexto, lança-se um desafio a que se o encontre.
         Como Eva, ao ser feita imagem e semelhança de Deus, portanto, cheia de virtude, Rute, ao se converter, fez-se virtude, assumindo a semelhança da santidade e espiritualidade de Deus.
         E como Adão regozijou-se com a virtuosa Eva dizendo: “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne” – (Gn. 2:23), também foi assim que Abraão encontrou virtude em Sara, que Isaque a descobriu em Rebeca, que Jacó a achou em Raquel, Boaz em Rute, José na Virgem Maria. E é assim, também, que cada um de nós, homens, busca, descobre e encontra virtude em nossas mulheres, quer sejam mães, esposas ou filhas.
         A virtude de Eva, como a de Rute, a virtude da mãe de Lemuel (sutilmente induzindo o filho a buscá-la), a virtude de qualquer mulher, como a virtude de qualquer homem, está em cumprir a vontade de Deus. Está a virtude na essência, no “ser” humano, na aparência que o homem tem, adquire ou assume com Deus, buscada na sua imagem e semelhança, no ato sublime do nascimento ou do renascimento (conversão), através da ação formadora ou transformadora do Espírito Santo.


                                                                           Dalto Divino - 09.01.2002

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