FAZENDA ECO-LÓGICA

Esta é mais uma estória que nos pediram para contar. Todos os colegas da Gerência de Projetos são "cúmplices" quero dizer, testemunhas dos fatos aqui descritos. Dizem que lá, os troncos dos arbustos de malícia são cortados a motosserra e utilizados na construção de cercas de arame liso. Também dizem que o capim é tão verde e tenro que o gado necessita proteção nos cascos para poderem pastar sem cauusar danos. A pavimentação com cupim, com pequenos exageros, é coisa do próprio sogro do Tião. Qualquer dúvida, é só ir lá e conferir. Eu mesmo confiro todo mês. É um dos lugares mais lindos que já vi.



A fazenda do Tiãozinho
Na região do Rio Preto
É a coisa mais bela
Que meus olhos viram de perto.
É um paraíso ecológico,
Coisa sem comparação:
Tem montanhas verdejantes,
Riquíssima vegetação,
Tem relevos tão diversos
Que estes meus pobres versos
Ficam aquém da descrição.

Lá, canta às portas a siriema,
Pássaros pretos, canarinhos;
Canta a perdiz, o jaó,
Canta o grilo bem cedinho;
Canta o vento ciciando,
Canta o sol radiante,
Canta a natureza toda
No seu todo exuberante.
Mais que o canto, o encanto
Traz, à tardinha, o alento
Para o coração exultante.


Quem possui riqueza tal
Precisa ter muito cuidado.
Com tanta diversidade
Fluindo de todo lado
Cada detalhe é importante.
Há zelo com a pastagem;
Até com a malícia selvagem,
Que alimenta ou mata o gado.
Sobremodo experiente,
Tiãozinho é exigente
Na preservação do seu legado.

Para preservar a propriedade,
Ele chega a exagerar.
Evita por gado no pasto
Para não o pisotear
Ou então calça as reses
Com pantufas bem macias;
Até mesmo as crias,
Faz questão de calçar.
Assim, o rebanho passeia.
Só o touro faz cara feia
Pela cor que tem que usar.
A propriedade é cercada

Com arame e madeira.
Cada poste é de primeira:
Cerne de malícia pura.
No gume da motosserra,
Cada palanque é cortado,
Muito bem aparelhado
Para a melhor arquitetura.
— Isso é riqueza renovável —
Diz o Tião. — Inestimável
Na atual conjuntura!



Outro dia, um vizinho,
Chamando-lhe a atenção,
Disse na contramão,
Deixando o Tião enfezado:
— Dá um fim nos cupinzeiros.
Isso infesta a terra!
Tião ficou uma fera
Respondendo contrariado
Que as térmitas eram cultivadas
Para pavimentar as estradas
Da sua fazenda e do Estado.

Assíduo freqüentador,
Razoável cozinheiro,
Sou costumeiro e vezeiro,
Estou sempre por lá.
Entretanto o que digo,
Sobre sua propriedade,
Exprime apenas a maldade
Que dentro do homem há.
A culpa é dos colegas
Que não têm limites ou regras
Na hora de cornetar.

“El Cornero”
07/03/2010.