soletrandoemversoeprosa: LUTO

soletrandoemversoeprosa: LUTO Texto normal.

COM O BODE EM CASA

COM O BODE EM CASA

Ouvi falar, certa vez, de uma família numerosa que vivia em um pequeno barraco, na periferia de uma grande cidade.
Eram pai, mãe e treze filhos, nascidos a intervalos curtíssimos, sendo a mais velha de quinze anos e o mais jovem ainda de peito. Dava-se a impressão que ninguém ali sabia qual a ordem no processo reprodutivo, se gestação e parto ou vice-versa, tamanha a atividade. Com eles moravam ainda um avô doente de reumatismo, ranzinza e beberrão e uma tia que vendia bugigangas na rua e exigia um quarto só para si.
Não suportando mais o aperto e sem saber o que fazer para aliviar a barra, o pai foi procurar o pároco do bairro. Este, conhecedor da situação, recomendou-lhe, para surpresa sua, que arranjasse um bode e o levasse para casa.
Quinze dias depois, volta aquele pai ao pároco implorando outro tipo de solução, dizendo que ninguém no barraco suportava mais o cheiro do bode, a sujeira do bode, a barba do bode, o bafo do bode, o berro do bode, o andar, comer, beber, dormir e sonhar com o bode. Não dava mais para conviver com aquele bode dia e noite dentro de casa. Com um sorriso maroto, o vigário autorizou-o a se livrar do bicho.
Dois dias depois, lá estava o pai, agradecido, dizendo ao vigário:
- Seu padre, nem mesmo quando éramos só eu e Maria, parecia haver tanto sossego, tanto espaço e tanta limpeza naquele barraco!
Já pensou se as auditorias durassem meses?

Dalto Divino